Este Capítulo está composto pela exploração dos temas liderança, imaginário e tecnologias de preparação de líderes. Num primeiro momento, há uma incursão no tema central liderança, discutindo-se a evolução do conceito e as correntes teóricas que o incorporam. Tematiza-se liderança através de uma contextualidade e datação, na expectativa de se favorecerem conexões com o imaginário geracional. Em seguida, o esforço é dirigido no sentido de se estabelecerem ligações entre liderança, imaginário e tecnologia. Partindo de uma descrição da evolução dos métodos em T&D, em paralelo às correntes teóricas sobre liderança, o capítulo encerra-se com uma passagem pelo imaginário tecnológico.
3.1.1 Do conceito e da  correlação
  Liderança,  segundo Bergamini (1994, p. 13), é tema de forte apelo há mais de 40 anos, sem  que se tenha chegado a um consenso quanto à sua conceituação ou à sua  correlação com outros fenômenos e variáveis presentes nas organizações, e  muitas vezes
  [...] leva a conotação  de ‘dom’ mágico responsável por uma espécie de atração inexplicável que certas  pessoas exercem sobre outras. A imaginação de tantos que se envolvem com o  assunto fez com que esse fenômeno comportamental fosse perscrutado a partir dos  mais diferentes enfoques [...].
  De antemão,  já se tem uma referência que, se não esgota a intenção ou a possibilidade de se  discutir o assunto, desobriga de pretensões arrogantes. Ao se iniciar pela  afirmação de Bergamini (1994), desejou-se dar a dimensão polissêmica do  conceito de liderança, elegendo-o como uma categoria multifacetada, complexa e  inesgotável em si. Neste capítulo, o esforço cognitivo foi dirigido num  sentido, que talvez se possa chamar de descritivo-pedagógico, bem evidente.  Assim, corre-se o risco de parecer excessivamente didático ou exaustivamente  repetitivo. De todo modo, espera-se que ao final de sua leitura tenha-se um  panorama, se não completo, pelo menos com uma abrangência necessária para responder  ao problema de pesquisa.
  Ressalvas à  parte, o recorte imaginário e liderança, não obstante se considere o quanto o  tema já tenha sido objeto de outras pesquisas, não encontrou ainda ampla  exploração. Identificou-se um único título (LAPIERRE, 1995) publicado em língua  portuguesa, no qual um grupo de pesquisadores representativos se dedicou ao  tema, porém com uma abordagem fortemente marcada pela visão psicanalítica sobre  o imaginário. Além disso, tais pesquisadores ocuparam-se de um enfoque no imaginário do líder, buscando  argumentos, na própria história deste, que pudessem explicar suas condutas como  tal.
  Acredita-se  que a proposição em pauta, até onde foi possível averiguar, guarda um certo  ineditismo. Não se tem notícia de pesquisas que tematizam imaginário e  liderança sob esse enfoque. Por si só esse é um fator bastante motivador para a  presente, sobretudo por abranger uma perspectiva não de apresentação de casos,  mas de reconstituição do imaginário sobre liderança, abarcando visões de  líderes e outros sujeitos sociais (profissionais de T&D) implicados no  fenômeno em questão. 
  Parece  relativamente simples estabelecer um vínculo ideológico entre liderança e  imaginário. Como será possível averiguar a seguir, em todos os tempos os  conceitos de liderança sempre se uniram ao contexto sócio-histórico e, em  conseqüência,  aos interesses daqueles em  posição de poder e, ainda, como argumento estratégico para se justificar um  modelo hierárquico que conserva uma ordenação social específica. Uma sociedade  baseada na hierarquia, ou em outra forma de organização, necessita de definir  estratégias e mecanismos ideológicos que a justifiquem. Portanto, estabelecer a  vinculação entre ideologia e liderança torna-se relativamente simples, bastando-se  atentar  para as evidências históricas.
  Seguindo,  então, através dos caminhos que tornam possível a reconstituição e a análise do  conceito de liderança, tem-se que, após recorrer a diferentes autores para a  sua formulação, Bergamini (1994, p. 15) conclui que pelo menos dois elementos  são comuns a todas as definições, a saber: (1) a liderança como fenômeno grupal  e (2) caracterizada como um processo de influenciação intencional. E mais  adiante acrescenta:
  Alguns teóricos se  preocuparam em retratar aquilo que o líder é, quais os traços que caracterizam  sua personalidade. Outros estudos imprimiram maior dinâmica quanto à sua  concepção de líder, buscando caracterizar aquilo que o líder faz a partir de um  estilo pessoal específico. O fenômeno da liderança foi também analisado em função  das circunstâncias que favorecem a eficácia do líder, isto é, que variáveis do  ambiente, portanto, extra-relacionamento, são cruciais nesse momento. [...]  todos esses enfoques, em lugar de se contradizerem, complementam-se uns aos  outros  (ibidem, p. 17).
  A propósito  da dificuldade que se encontra para conceituar o termo, e partilhando uma visão  bastante próxima da de Bergamini (1994), Penteado (1978, p. 4-5) assim se  refere: 
  A Liderança é um  fenômeno social, expressão que implica na existência de uma sociedade e de um  ambiente. A situação é um fator novo  que surge das relações do líder com o grupo, e vice-versa. Para que se  caracterize um conceito amplo de Liderança precisamos de um líder, de um grupo  e de uma situação. O líder para destacar-se e influenciar o grupo tem de agir  dentro de um contexto circunstancial. [...] Liderança, assim, seria a função do líder que a exerce no e sobre um  grupo, em determinada situação. [...] Dessa conclusão nascem três teorias  básicas na conceituação de Liderança – função do indivíduo, do grupo e da  situação. 
  Outros  autores bastante representativos quando se trata desse assunto, como Kotter  (2002) e Senge et al. (2000),  distinguem liderança como um processo e não como um talento e, ao adicionarem  mais uma variável associada ao conceito, que é a confusão conceitual entre  líder e executivo de alto nível ou gerente, aumentam ainda mais a dificuldade  de se abordar o tema. Para Kotter (2002), por exemplo, liderar é criar  estratégias, determinar direções que se devem seguir e conseguir que os  subordinados se convençam da validade das idéias propostas e mostrem-se  dispostos a segui-las. Parece implícito aí um certo sentido messiânico em que  se misturam imagens de liderança como atributo ou dom com a possibilidade de  “pessoas comuns”, não privilegiadas, aprenderem a desenvolver sua capacidade  para liderar ao longo do tempo. O autor chega a sugerir que uma característica  diferenciadora dos grandes líderes é exatamente a condição de continuar a  desenvolver-se ano após ano, independente do potencial inicial. Faz evidente  distinção, por outro lado, entre gestão e liderança, considerando a primeira  como uma implicação restrita à manutenção do bom funcionamento de um sistema ou  organização e a liderança como a que cria esse sistema ou mesmo cuida de sua  transformação. Neste instante, não há como deixar de pontuar a introdução  indireta (ou direta) de um conceito que, embora não seja dele sinônimo ou com  ele coincidente, está associado ao tema liderança: empreendedorismo. 
  Sem se  pretender estender a discussão, vale dizer que empreendedorismo, tal como  liderança, é fenômeno muito mais humano que tecnológico ou econômico, revela-se  na atitude desbravadora e de iniciação e implica em uma vontade de sonhar e de  realizar, que é uma capacidade comum a todos os indivíduos (DOLABELA, 2000).  “Os empreendedores freqüentemente desenvolvem maneiras de ser e de fazer que se  diferenciam daquilo que é a norma de uma sociedade” (FILION, 2000, p. 10). 
  Senge et al. (2000, p. 28), por outro lado,  entendem a liderança como “[...] capacidade de uma comunidade humana configurar  seu futuro e, especialmente, de sustentar seus processos de mudanças  significativos, necessários para que isto aconteça [...]”. Os autores concordam  com Peter Drucker (1996), citando-o, ao considerarem a liderança como uma visão,  - e, é importante que se diga, como uma visão coletiva, na medida em que vem  associada à expressão “comunidade humana”, noção que se discute um pouco mais  adiante.
  São  bastante controversas as associações feitas entre os temas gestão,  administração, empreendedorismo e liderança. Motta (2002) relaciona o  aparecimento do termo administração ao contexto da área pública, expressando uma função subordinada aos conselhos e  assembléias ou ao poder político, ou seja, uma função de execução de decisões. Já a expressão gerência, apesar de possuir significação análoga, origina-se da  esfera privada, com a mesma conotação relativa à execução de ordens superiores  emanadas dos diretores, proprietários, membros de conselhos etc. O próprio  autor reconhece, contudo, que essa segmentação e essa dissociação entre  dirigentes e executores não fazem sentido e que administração, gerência e  gestão são expressões aceitas como sinônimas, sendo que a última, nos anos 1990,  ascendeu com maior status para  designar o campo de atuação e modelos participativos (co-gestão e autogestão)  de gerência ou administração. 
  Vale lembrar, ainda,  que por ser este um campo de conhecimento novo [o da gestão], com poucas  propostas de aceitação universal, os termos administração, gerência e direção  foram sendo vítimas de ambigüidades e incompreensões, próprias de quem ainda  engatinha em suas pretensões científicas. O uso indistinto das expressões  administrador e gerente generalizou-se no Brasil para significar quase que  qualquer posição de direção e chefia. [...] No inglês britânico, bem como no  francês, a palavra management (normalmente traduzida no português como gerência) [...] significa,  essencialmente, a gestão privada, e a palavra administration (traduzida normalmente como administração) tende a  significar a gestão pública (MOTTA, 2002, p. 14-15).
  Hofstede  (2003, p. 11) acrescenta que “‘Gestão’ é um conceito inventado na Inglaterra e  desenvolvido nos Estados Unidos. Há um mito persistente de que o resto do mundo  deva, então, seguir as teorias e práticas anglo-saxônicas de gestão”. De todo  modo, tanto em Motta (2002) quanto em Hofstede (2003), gestão recebe uma  conotação genérica, assim como seus sinônimos, de dirigir, conduzir e decidir.
  Por  outro lado, etimologicamente, liderar tem origem no verbo inglês to lead, cujo significado remete a  conduzir, dirigir, guiar, comandar, persuadir, encaminhar, encabeçar,  capitanear etc, quaisquer que sejam os dicionários consultados. Seu primeiro registro  data de 825 d.C. Há, porém, uma correlação entre os diversos conceitos de  liderança e a palavra procedente do latim ducere, cujo significado conduzir (no português, duzir precedido de afixos)  influenciou as derivações de to lead.  Em 1300, documentou-se leader como“condutor, guiador, capitaneador”,  momento histórico em que também surge leading, substantivo de to lead, traduzido  por “ação de conduzir”. Já em 1834, emerge a palavra leadership, significando “dignidade, função ou posição de guia, de  condutor, de chefe” (ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL, 1982, p. 6790).
  A  língua portuguesa incorporou o vocábulo lead e seus derivados na primeira metade do século XIX. Por volta das décadas de  1830 e 1840, o radical foi integrado à morfologia, adaptando-se o termo à  língua portuguesa: líder, liderança, liderar. Dos três, talvez somente o  conceito de líder não suscite controvérsias: “[...] pessoa que vai à frente  para guiar ou mostrar o caminho, ou que precede ou dirige qualquer ação,  opinião ou movimento” (PENTEADO, 1978, p. 1). Para o autor, nessa conceituação  evidenciam-se pelo menos duas imagens essenciais: a primeira é o destaque   –  o líder diferencia-se, é  proeminente, aparece no grupo – que se configura como um atributo; e a segunda, como anteriormente, é a  influência,  que por sua vez sugere uma relação. Ao considerar o fenômeno liderança, Penteado (1978, p. 2) faz menção, ainda, à dominação, que é entendida como a  síntese das duas imagens precedentes (destaque e influência): “ter influência  sobre e elevar-se acima de”. Assim,  como conclusão, o autor afirma que, “liderança é uma forma de dominação, o exercício de um poder sobre indivíduos ou  grupos” (Ibidem, p. 3), remetendo a representação do termo ao exercício do  poder e da autoridade. 
  Em um  retrospecto histórico, Bergamini (1994) sugere que o termo inglês ocupa o  imaginário social há “apenas” 200 anos. Além do que, associada a ele, tem-se a  preocupação acerca dos mecanismos de identificação e treinamento eficaz  daqueles que deverão responder por tal papel. 
  Portanto,  na literatura técnica ou no senso comum, é possível identificar “confusões”  entre os termos liderança e gerência, as quais, como sugere Kotter (2002),  são  conseqüentes provavelmente, em  alguns casos, a tentativas de simplificação e, em outros, à má aplicação dos  termos ou mesmo ao seu desconhecimento.
  Há, sem  dúvida, uma complexidade inerente a todos os fenômenos humanos e, sobretudo, àqueles  próprios à maneira como o homem se organiza e cria vínculos sociais, conforme  visto no capítulo 2 ao se tematizar gerações e autoridade. Talvez sejam essas  algumas das razões possíveis para justificar o porquê de os diversos autores  entenderem a liderança em diferentes perspectivas: como qualidade pessoal, como  uma função do líder decorrente de uma posição formal (cargo, que se confunde  com gestão, gerência ou administração) que ocupa, como um conjunto de traços  que configurariam uma determinada tipologia ou ainda como um fenômeno social e,  portanto, contingencial. Também no imaginário popular essa confusão está  presente, o que se pode evidenciar no próximo capítulo, que trata dos dados da  pesquisa, além de revelar contradições e ambigüidades quando se tenta formular  o conceito.
  Pelo visto,  seguramente as possibilidades de interpretação e de representação não se  esgotarão por aqui. Entretanto, é lícito aceitar as posições sugeridas por  Penteado (1978) e Bergamini (1994). A esta altura espera-se que os argumentos  apresentados convençam em sua abrangência e fundamentos, fato que  justifica a adoção da visão desses autores  como referência para esta pesquisa, ou seja, da liderança como um fenômeno  complexo, que traz no bojo de seu conceito três elementos distintos, mas  complementares: (1) o líder e seus atributos psicológicos; (2) os liderados com  seus problemas, atitudes e necessidades; (3) a situação, que determina o  ambiente onde líder e subordinados atuam.
  Não bastam certas  qualidades de Liderança para ser um líder. A Liderança é uma função da  situação, da cultura, do contexto e dos costumes, tanto quanto é uma função de  atributos pessoais e estrutura dos grupos. É a combinação equilibrada de três  elementos vitais e dinâmicos: o indivíduo, o grupo e a situação (PENTEADO, 1978,  p. 11).
  Entretanto,  até este ponto, partiu-se de uma aceitação do fenômeno liderança como próprio e  natural às várias formas de organização social que, por seu turno, pressupõem  um modelo hierárquico. Relevância deve contudo ser dada também a correntes de  pensamento que seguem uma outra vertente, suscitando questionamentos inclusive  sobre o fenômeno da liderança em si. É o caso, por exemplo, de Johnson (2003),  que discute uma nova maneira de se analisar a organização dos sistemas  complexos ao introduzir o conceito de emergência , no sentido daquilo que emerge, bem como de outros autores preocupados com o  estudo de sistemas autogerenciados, ou ainda de outras correntes, como a Ecologia Organizacional, que é às vezes  até rechaçada por ser entendida como anti-management,  uma vez que,  ao traçar um paralelo entre a natureza e a sociedade, deixa de enxergar que os  seres humanos, em princípio, têm grande margem de influência e escolha sobre  aquilo que o seu mundo e a sua organização poderão ser. A Ecologia  Organizacional preconiza que o sucesso das organizações está determinado por  variáveis do ambiente, sobre as quais não se tem quaisquer controles, sendo portanto  conseguido ao acaso.  Nessa perspectiva,  desconsidera os esforços de gestão como agentes importantes no processo. Por se  condicionar a uma lógica supra-organizacional, o sucesso tira a relevância e a pertinência  do papel adaptativo do gestor. Ao que parece, há uma distorção na transposição  dos conceitos do darwinismo, uma vez que, no caso, o mesmo trata os fatores  ambientais como eventos oriundos da relação entre o ser vivo e o ambiente  físico-químico, não retirando a ação do indivíduo como responsável pelas  provações selecionistas.  Essa leitura  distorcida das bases conceituais da evolução de Darwin é que pode levar a  considerar esse modelo como anti-management.
  A  emergência de modelos gerenciais em que o ambiente cumpre ponto central, além  de deslocar o foco para a dimensão externa das empresas e, portanto, reclamar  por uma ação gerencial que se estenda para além de seus limites, atribui uma  relevância bastante evidente ao mercado em que a organização está inserida.
  Dentro  dessa perspectiva, pode-se perguntar como se deve conceber a liderança, pois o  pressuposto de base é exatamente a ausência desse fenômeno, ou seja, é a  inexistência de alguém para planejar  e dar ordens, guiar e dar direção. Esse tipo de visão, marcadamente atual, põe  em dúvida algumas das representações imaginárias sobre liderança, desconstrói e  reconstrói novos mitos e reclama por novas concepções e modelos, o que se faz  explícito na argumentação de Johnson (2003, p. 11-16):
  Nós estamos  naturalmente predispostos a pensar em termos de líderes [...] durante milênios,  fomentamos elaboradas células-líderes em nossas organizações sociais, seja na  forma de reis ou ditadores [...]. A maior parte do mundo à nossa volta pode ser  explicada em termos de hierarquias e sistemas de comando [...]. [Contudo] a  história da emergência entrou em nova fase nos últimos anos [...]. Na primeira  fase, mentes curiosas lutavam para entender as forças de auto-organização sem  imaginar contra o que lutavam. Na segunda, certos setores da comunidade  científica começaram a ver a auto-organização como um problema que transcendia  as disciplinas locais e puseram-se a resolver o problema, começando por uma  comparação entre comportamentos de áreas distintas (biologia, sociologia, biofísica,  urbanismo, sistemas etc.) [...] A auto-organização tornou-se um objeto de  estudo por si mesma, levando à criação de consagrados centros de pesquisa  [...]. 
  Como  entender o fenômeno liderança no novo paradigma que se apresenta nos primeiros  anos deste século, em que os grupos sociais auto-organizados a dispensam ou em  que se discute a ética da hierarquia?
  Os efeitos da redução  de níveis hierárquicos (os downsizings),  da reengenharia e da terceirização atingiram a gerência intermediária, cujo  papel sofre constantes reformulações, cabendo a ela não só a manutenção do  resultado atual das organizações como também a inovação e o aprendizado. [...]  Gerir passa a ser atribuição de cada pessoa, em todos os níveis das  organizações – agora reduzidos. [...] [o desafio é] Ensinar os porquês e os como para cada um assumir a gestão de seus resultados e por meio  desse processo gerar aumento de credibilidade [...] (MANDELLI, 2001, p. 21-23).
  Manz e Sims  (1996, p. XV) também partilham da  imagem de que a existência de um controle centralizado vem sendo substituída  pela proposta de equipes autogerenciadas. Advertem porém, a propósito do título  de sua obra “Empresas sem chefes!”, que o mesmo 
  [...] contradiz as  idéias fundamentais sobre como fazer as organizações funcionarem. [...] Muitas  das organizações mais bem sucedidas do mundo estão descobrindo que o antigo  conceito de um chefe único pode ser efetivamente substituído pelo conceito de  equipe [...].
  Isto não significa que  as empresas não precisem mais de gerentes ou líderes. Na verdade, a liderança é  um dos principais ingredientes para o funcionamento das equipes. Mas são os  líderes, e não os chefes, que permitem a autogerência das equipes. Na verdade,  a idéia de chefe todo-poderoso está ficando tão antiquada quanto o dinossauro (ibidem, p. XV-XVI).
  Em meio a  tudo isso, observou-se uma retomada da liderança como atributo ou habilidade  após os anos 70. Kotter (2002), um contemporâneo interessado no fenômeno  liderança, explicita sua concordância com o fato de que a mesma não deve ser  compreendida apenas como um atributo inato. De todo modo, sua visão é  fortemente marcada pela corrente que defende a posição de ser a liderança um  atributo ou conjunto de habilidades. Em suas palavras, liderança, na verdade,
  pode ser as duas  coisas: há pessoas que nascem líderes e há outras que aprendem a desenvolver  sua capacidade de liderança ao longo de décadas. Por outro lado, certamente há  um grande número de pessoas que, por herança genética, possuem limitações em  relação ao que podem fazer na vida. Mas, se levarmos em conta aquelas com algum  potencial de liderança, o verdadeiro desafio será desenvolver esse potencial (ibidem, p. 49). 
  O  posicionamento de Bennis e Nanus (1988, p. 4) acerca do conceito de liderança  considera que
  décadas de análise  acadêmica deram-nos mais de 350 definições de liderança. Literalmente, só nos  últimos setenta e cinco anos foram feitas milhares de investigações empíricas,  mas não existe um entendimento claro e inequívoco quanto ao que distingue  líderes de não líderes e, talvez da maior importância, ao que distingue líderes efetivos de não efetivos [...].
  Pelo visto,  a polêmica tenderá a se estender. E talvez não valha a pena perder-se em  discussões que só se justificam na negação da natureza dialética do humano. O  conceito em si de liderança não parece ser a questão, mas com certeza a função  do líder de organização nunca será a mesma. A complexidade do mundo  organizacional, justificada por, dentre outros fatores, reestruturação quase  contínua das atividades, crescimento da competição global, mudanças  demográficas na força de trabalho e rápidas mudanças tecnológicas, está numa  relação direta com o aumento da complexidade do fenômeno liderança. Além de ter  de lidar com os sobreviventes das reestruturações, os líderes estão igualmente  implicados nas mudanças organizacionais e de cultura que se estendem para além  dos limites da empresa, atingindo dimensões internacionais. Assim, diversidade  multicultural, ambientes virtuais, capacidade para compartilhar informações e  poder para dirigir e ser dirigido são temas do cotidiano dos líderes  contemporâneos. 
  Dentro de  uma generalidade, é difícil imaginar a existência de algum indivíduo cuja  função seja obedecer sempre. “Neste sentido todo mundo é líder” (PENTEADO,  1978, p. 13). Da perspectiva desse autor, tem-se uma fresta pouco comum ao  estudo do fenômeno. Ele introduz o grupo como viés da liderança, mas  não como a parte que “sofre a ação ou a determina direcionada para alguém”. Em  sua visão, o grupo em si influencia os indivíduos e, como tal, pode ser  entendido como o agente – consideração aliás aqui  já feita quando se referiu ao pensamento de  Senge et al. (2000). 
  É com essa  abertura no olhar que se torna possível conceber novas visões para formas de  organização social nas quais não se questiona a liderança enquanto fenômeno,  mas que a deslocam de um paradigma do poder central. E, certamente, não será  fácil a admissão de que o modelo piramidal, hierarquizado, já não é capaz de  responder à complexidade global.
  É possível  falar de emancipação das pessoas num mundo organizacional, sem que se acione o  gatilho da ameaça à hegemonia do poder central? Serão os modelos flexíveis mecanismos mais humanos de  organização do trabalho? É possível imaginar e concretizar a organização do  trabalho a partir de paradigmas mais igualitários? 
  O comando e  o controle estão sendo substituídos ou combinados
  [...] com todos os  tipos de relações (alianças, empreendimentos conjuntos, participações  minoritárias, parcerias, acordos comerciais e tecnológicos) nas quais ninguém  controla ou comanda. Essas relações tiveram que se pautar em objetivos,  políticas e estratégias comuns, trabalho em equipe e na persuasão – ou jamais  funcionariam (DRUCKER, 1997, p. 16).
  Para  Drucker (1997), o exercício da liderança exige uma aprendizagem para que se  possa liderar em contextos onde não se tem autoridade de comando, em que não se  controla nem se é controlado. 
  O  posicionamento de Drucker (1997), é relevante que se diga, vem carregado de  forte conotação ideológica, pois traduz uma distorção da realidade que se  pretende disseminar para garantir ou manter a hegemonia. A natureza capitalista  das sociedades contemporâneas implica, por definição, em controle desigual dos  recursos existentes, ou seja, os conhecidos termos propriedade privada dos meios de produção e dominação traduzem-se em desigualdade. Portanto, não se devem confundir  estratégias de manutenção dessa relação desigual, que se tornaram mais eficazes  contemporaneamente, com uma mudança da natureza, do caráter básico do sistema,  que é hierarquizado, porque pressupõe superioridade de uns e inferioridade de  outros no controle de recursos essenciais.
  Em suma, o  que Drucker (1997) faz é expressar uma representação social (que é hegemônica)  sobre liderança contemporânea, que deve ser questionada como tal e não  evidenciada como “verdadeira” necessariamente.
  Enfim, após  se ter buscado trilhar o percurso do conceito de liderança, a seguir  pretende-se incorporar tais definições a uma estrutura teórica mais abrangente.  Podem-se identificar pelo menos três fortes correntes sobre liderança que se  associam às três variáveis implicadas em sua conceituação: o líder, os  liderados e a situação.
  Ainda que  se encontrem múltiplas definições para o termo, liderança é comumente associada a um processo de influência. 
  É a influência a  verdadeira essência da Liderança.[...] Esta influência pode manifestar-se sob  diversas formas, desde o simples comando – ato de mandar para que os outros obedeçam – até a complexa inspiração –  impulso que leva os homens a fazer ou deixar de fazer alguma coisa que, eles  sabem, o líder gostaria que fizessem ou deixassem de fazer (PENTEADO, 1978,  p. 20).
  Portanto,  pode-se arriscar dizer que quase a unanimidade dos autores a caracteriza como  uma relação que se dá entre pessoas, onde a influência e o poder foram  distribuídos de maneira desigual numa base legitimada (contratual ou  consensual). Além disso, não há como conceber a liderança no isolamento: não há  líderes sem seguidores. Esses elementos comuns, longe de elucidá-las, ocasionalmente  suscitam mais indagações sobre a natureza da liderança e as diferenças entre o  que se diz necessário fazer e o que efetivamente se faz.
  A confusão  acerca do fenômeno é assombrosa: “As pessoas dizem ‘liderança’, mas descrevem  ‘gerenciamento’, falam apenas de um estilo de comando, fazem discursos sobre  como mais de um líder cria o caos, ou expressam-se em termos místicos” (KOTTER,  2000, p. 9). Assim, não raro o fenômeno liderança é associado a um “dom  mágico”, a uma capacidade sobrenatural e sobre-humana. Tais concepções conduzem  a ações vinculadas ao desejo de se ser salvo ou conduzido, o que elimina a  possibilidade de entendimento de que se é sujeito da própria história e de que,  de uma forma ou de outra, todos podem ser líderes em algum contexto.
3.1.2 Correntes teóricas: retrospectiva e prospecção
Em certo  sentido, os conceitos e o entendimento do fenômeno liderança, assim como dos  modelos de gestão, estão sob influência de variáveis históricas e da própria  concepção de homem que impera em dado período. As definições do termo, por sua  vez, determinam o surgimento de teorias sobre o tema que podem refletir tanto  ondas passageiras, modismos, interesses e ideologias quanto tendências  acadêmicas e científicas, mas que “nem sempre refletem a realidade e algumas  vezes apenas insensatez” (BENNIS; NANUS, 1988, p. 4). 
  Na  formulação de uma teoria, parte-se de determinados conceitos, concepções e  pressupostos, e assim parece ser o caso das teorias sobre liderança. De  qualquer modo, portanto, é possível suspeitar que a atribuição de significados  assume papel preponderante na psicodinâmica do fenômeno liderança, quer se  considere o próprio líder, quer se considerem seus seguidores ou os  pesquisadores que se interessam pelo assunto. Parece ser nesse ponto que os  construtos teóricos e o imaginário sobre liderança se entrelaçam.
  A primeira  corrente teórica (Teorias dos Traços) categoriza a personalidade como base de  análise e pressupõe liderança como atributo inato e função do líder,  configurando-a como dom. Tal abordagem encontrou ampla ressonância nas idéias  da Antigüidade, as quais se fundam em representações de destaque do homem sobre a sociedade, do individual sobre o  coletivo. 
  Aristóteles,  ao afirmar que uns nascem para mandar e outros nascem para obedecer, lançou as  bases desse pensamento, conforme aponta Penteado (1978, p. 5-6):
  A Liderança é atributo que se transfere e relação que  se eterniza. [...] A Religião depressa reforçou o líder natural, através dos  postulados do Direito Divino. Surgiram os reis, aos quais se deu a prerrogativa  de distribuir parcelas de poder entre nobres, sacerdotes e guerreiros. [...]  Durante séculos, a Liderança é somente função do indivíduo a quem competem a  posição de proeminência e o exercício da influência sobre os grupos humanos.  [...] A Revolução Francesa [...], no que tange à Liderança, não fez mais do que  reforçar uma concepção estritamente individualista. [...] Ao direito de  nascimento sucedeu o velhíssimo direito do mais forte. [...] A liderança  continuou sendo a função do líder. [...] A Liderança atributo fascina as criaturas. [...] Nasce a Teoria dos Grandes  Homens [...] examinando suas biografias, procura a ‘pedra-filosofal’ da  Liderança, a qualidade, ou o conjunto de qualidades capazes de fazer de um  homem um líder. 
  Em seu  relato, Bergamini (1994, p. 28-29) destaca que até os anos 40 do século XX  predominaram as Teorias dos Traços, que constituem a primeira tentativa de  sistematização bem sucedida,
  enfatizando  especialmente as qualidades pessoais do líder. [...] As características dos  líderes passam a ser estudadas dentro de uma perspectiva universalista, como  elementos em si mesmos, independente da situação e demais variáveis em meio às  quais estejam em ação. 
  O mito  positivista da objetividade alimentou fortemente a visão dessa corrente,  contrariamente às abordagens contemporâneas que têm na fenomenologia seu  suporte. As Teorias dos Traços partem de pressupostos coincidentes com a Escola  de Administração Científica e reforçam uma idéia de que liderar é processo unilateral,  calcado nos atributos de poder, disciplina e dominação. Nesse sentido, a  unilateralidade nega aos liderados papel ativo na relação.
  O culto à  personalidade fez florescer estudos focados nos personagens históricos, nos  “Grandes Homens”, considerando-os os agentes, os verdadeiros responsáveis pelas  revoluções, pela evolução e pelos retrocessos da humanidade. Dentro dessa  imagem, o ser humano comum jamais seria capaz de se destacar como líder. Nessa  perspectiva parece claro o componente ideológico embutido. Está-se falando de  um momento histórico em que os modelos patrimonialistas e patriarcalistas  necessitavam de argumentos que os justificassem. Considerar a liderança como  atributo inato é assegurar a passagem e a continuidade, vinculando-a a laços consangüíneos  ou a outros meios que garantam a preservação da herança de bens ou posição.
  Todavia, no campo  específico da Liderança, o estudo das vidas dos grandes  homens apresentou resultados controvertidos.  Esses estudos objetivavam o levantamento das qualidades individuais que faziam  de um homem um líder. [...] A justificativa era simples. Se a Liderança é uma  função do líder, compreendendo o líder, compreenderemos a Liderança. Para  compreender o líder, era necessário conhecer e estudar-lhe a vida, fazer um  levantamento das qualidades pessoais, a fim de que se pudesse chegar à  conclusão de que o líder é o indivíduo que tem coragem, determinação,  persistência etc. A liderança seria o conjunto das qualidades individuais do  líder em ação (PENTEADO, 1978, p. 7).
  Alguns  autores, como Bennis e Nanus (1988) e Penteado (1978), revelam-se bastante  críticos quanto a essa visão da liderança, o que parece se justificar pelo fato  de ela esbarrar em concepções facilmente associáveis a direitos e privilégios e  a superioridade racial ou genética de um indivíduo sobre outros e remeter,  também, a uma noção de ordem social, como a predominante na Idade Média,  vinculada aos que nasceram para obedecer e aos que nasceram para o mando.
  Como já se  antecipou, há outras correntes que contrariam a visão da liderança como  atributo. As visões Contingenciais e Situacionais, por exemplo, baseiam-se na  fenomenologia e estabelecem um sentido de reciprocidade e subjetividade  expressas na liderança. Defendem que a  representação dos fatos (imaginário) não pode ser pura, visto haver uma  constante interpretação de quem os observa (subjetividade). Quem observa não  consegue evitar relacionar o objeto de observação com a sua experiência e o seu  conhecimento. O pensamento positivista, que considera a organização como um  instrumento para se atingir um fim, é substituído, nesse caso, pelo pensamento  sistêmico que encara a organização como um sistema uno, onde os fatos se  correlacionam e interdependem. 
  Liderança como fenômeno social incorpora elementos subjacentes à lógica  racional e não aceita reducionismos. Assim, o componente subjetivo de  significações vincula-se estreitamente à concepção de liderança. 
  Taylor, um dos grandes expoentes da corrente positivista de pensamento  em administração, considerava princípios reforçadores de uma idéia disciplinar  de relação com o trabalho, identificando papéis distintos, hierarquizados e  nitidamente discriminados entre aqueles que exercem influência e os que a  recebem. Divisão de responsabilidades, métodos científicos para determinar a  forma de execução de tarefas, seleção da pessoa mais capaz, formação das  pessoas para o bom desempenho, controle do desempenho e reconhecimento são  alguns desses princípios, que em si traduzem uma perspectiva claramente  hierarquizada da vida social e de produção – uns poucos mandam e o fazem com  bases científicas e, portanto, legítimas. Essa abordagem visualiza o humano  numa perspectiva “instrumental” (o homem como instrumento da produção, da  prosperidade) e não em si mesmo numa perspectiva humanista. 
  Referindo-se à corrente que se ocupa daquilo que o “líder é”, Bass et al  (apud BERGAMINI, 1994, p. 32) fazem  menção à questão dos motivos mais freqüentemente perseguidos pelas pessoas que  estão posicionadas como líderes: “[...] McClelland propôs que alguns líderes  bem-sucedidos têm alta motivação para o poder, baixa necessidade de afiliação e  alta inibição da atividade”. Penteado (1978, p. 7-8) ressalta, a propósito da  liderança como atributo, que,
  em 1940, Charles Bird individualizou nada menos de 79 qualidades em  diferentes pesquisas sobre Liderança, com um grau de coincidência irrelevante.  Mesmo esses traços coincidentes não passavam de generalidades vagas. [...]  Chegava-se, pouco a pouco, à conclusão de que, embora a Liderança estivesse  muito ligada à personalidade individual, era difícil, senão impossível,  caracterizá-la. Não seria, ela própria, uma qualidade em si mesma? [...] Há  poucas dúvidas de que, para ser um líder, a pessoa deva trazer com ela, como  parte de sua personalidade e da estrutura de seu caráter, qualidades de ser e  capacidade de fazer que a liguem e destaquem no grupo ou na situação. Todavia,  “nem por isso pode-se afirmar haver alguma evidência de existirem traços  universais de Liderança”.
  Bergamini (1994) segue em seu retrospecto e menciona que já na década de  1950 emergem as Teorias dos Estilos de liderança, que avançam de um enfoque no  perfil para a dinâmica do comportamento dos líderes ou foco nas habilidades do  líder. Entre os cientistas do comportamento acrescenta-se, então, à preocupação  com o que o “líder é” uma noção daquilo que o “líder faz”. Nesse sentido, todo  o esforço é dirigido para configurar o conjunto de comportamentos que  caracterizam a chamada habilidade de liderança. Tal fato se faz acompanhar de preocupações  com o gerenciamento da rotina nas organizações, além do surgimento do  “subordinado” como elemento igualmente implicado no processo da liderança. São  ainda dessa mesma década as referências às dimensões tarefa e pessoas/relacionamentos como focos de atenção do líder e determinantes de seu estilo. A conceituação de  liderança como administração ou gerência justifica-se dentro dessa corrente de  pensamento.
  Na enumeração das principais correntes  teóricas sobre liderança, além das duas precedentes (Teorias dos Traços e  Teorias dos Estilos), Bergamini (1994) faz ainda referência àquelas que realçam  o Enfoque Situacional. 
  Volumosa pesquisa feita especialmente sob condições reais de vida tem  mostrado bem consistentemente, todavia, que a personalidade do líder é somente  um dos fatores que determinam o desempenho do grupo. O líder que se  desempenha  bem em grupo ou sob um  conjunto de condições pode não sair-se bem em outros grupos, em outras tarefas  ou sob outras condições (FIEDLER  apud BERGAMINI, 1994, p. 46).
  Os situacionistas, referenciados por Penteado (1978), consideram que a liderança envolve quatro  elementos: (1) a estrutura das relações interpessoais do grupo; (2) as  características do grupo; (3) as características do meio em que o grupo vive e  de onde os seus membros saem; e (4) as condições físicas e a tarefa com as  quais o grupo se confronta.
  A essa consideração Gibb  (apud PENTEADO, 1978, p. 10-11)  acrescenta:
  Assim como se admite ser o melhor líder aquele que mais de perto atende  às necessidades dos liderados, o melhor líder é aquele que atende aos  imperativos da situação: um membro do grupo assume a posição de líder  momentaneamente na proporção em que participa das atividades do grupo e  demonstra sua capacidade para contribuir mais do que os outros à consecução,  pelo grupo, dos seus objetivos. É sabido que as situações são especialmente  sujeitas a mudanças através de mudanças nos objetivos, nas características do  grupo, nas relações interpessoais, nas entradas de novos elementos e na saída  de outros, nas pressões de outros grupos etc. Desde que as características  individuais da personalidade são, ao contrário, muito mais estáveis, é de se  esperar que a liderança do grupo, se irrestrita pela conscienciosa estruturação  hierárquica do grupo, será fluida e passará de um membro a outro ao longo da  linha daquelas características particulares da personalidade que, em virtude da situação e de suas exigências, sejam momentaneamente características de Liderança. Aí está por que o líder  em uma situação não é necessariamente o líder, mesmo no próprio grupo, em outra  situação diferente. 
  Portanto, a  partir de meados dos anos 1970, alguns autores vinculados às teorias  contingenciais ou situacionais, apesar de não deixarem de lado os diferentes  tipos de líderes, passam a se dedicar, mais detidamente, às variáveis que  contextualizam e cercam o processo de liderança. Daí em diante as pesquisas têm  como foco os traços de personalidade dos líderes, as características dos  seguidores e os contextos interno e externo associados ao processo de  liderança.  Considerando a ação dos  liderados como crucial, essas teorias também se ocupam do ambiente contingente,  além da personalidade e do estilo de liderança já próprios às abordagens dos traços  e estilos de liderança.
  Bergamini (1994)  cita a Teoria das Trocas, de Hollander, a Teoria Contingencial, de Fiedler, a  Teoria do Caminho-Objetivo, de Path-Goal, e a Teoria da Expectância e o enfoque  da Tomada de Decisão, propostos por Vroom-Yetton, como as principais  contribuições para o estudo da liderança em sua visão contingencial. Em todas  elas depreende-se uma associação do fenômeno em questão com o processo  motivacional de mobilização e de troca. Há, ainda, as chamadas novas teorias,  como a Transacional, a Interativa e a Visionária, entre outras.
  Mais uma  vez, é possível identificar na literatura críticas também a esse modelo  teórico. Para Bennis e Nanus (1988), o mesmo em nada avança no tocante à  compreensão do fenômeno. Quando o ponto de vista da liderança inata ou dos  traços é substituído pela noção de que os grandes eventos transformam pessoas  comuns em líderes, surge a imagem do que chamam “Grande Estouro”, outra  definição inadequada (ibidem, p. 5).  Para eles, o “Grande Estouro” refere-se ao acontecimento histórico particular  que faria emergir a figura do líder.
  Conforme  sugere Bergamini (1994), alguns autores consideram que o momento atual aponta  um paradoxo acerca das teorias sobre liderança, pois, associado à idéia da  necessidade de contextualizar as teorias que tratam do tema, nota-se, em  paralelo, o re-surgimento de idéias que se concentram na personalidade do  líder. Para a autora, contudo, o paradoxo inexiste, visto que são abordagens  que se complementam e não necessariamente se excluem. Já para Bennis e Nanus  (1988, p. 5), vive-se na contemporaneidade uma “notável” ausência de liderança,  que força e abre oportunidade para que se (re)pense o fenômeno: “Agora, no meio  deste entorpecimento que não foi interrompido nem pelo Grande Homem, nem pelo  Grande Estouro, temos uma nova oportunidade de avaliar nossos líderes e  ponderar sobre a essência do poder”.
  Estamos num momento da  história em que se faz necessária uma visão estratégica global de liderança,  não apenas da parte de uns poucos líderes em altos postos, mas de grandes  números de líderes em cada cargo, da linha de montagem da fábrica até o  escritório do presidente de uma organização [...] (ibidem, p. 2).
  Fala-se em nova liderança (BENNIS; NANUS, 1988;  KOTTER, 2002; NANUS, 2000; RENESCH, 1994). Ao longo dos anos, cada geração mudou  consideravelmente seu ponto de vista sobre o que é a liderança e sobre quem  pode exercê-la. 
  Há,  provavelmente, uma certa constância quanto às habilidades necessárias, mas o  entendimento quanto à natureza do fenômeno, a como este funciona e às maneiras  como se aprende a liderar tem mudado bastante. 
  As teorias  mais recentes atribuem relevância expressiva às variáveis ambientais –  contingenciais e contextuais – do fenômeno. Dois exemplos particularmente  importantes são a abordagem Visionária, de Nanus (2000), e a Servidora ,  de Greenleaf .
  A concepção  da Liderança Visionária acerca do fenômeno considera que: 
  se os gerentes são  conhecidos por suas habilidades de solucionar problemas, os líderes são  conhecidos por serem mestres em projetar e construir instituições; eles são os  arquitetos do futuro da organização. [...] são voltados para resultados, adotam  visões novas e desafiadoras do que é possível e desejável, comunicam estas  visões de tal forma que persuadem os outros a assumirem o compromisso com essas  novas direções [...] Esse tipo de liderança visionária parece escassa hoje em  dia (NANUS, 2000, p. 10).
  O autor  distingue quatro papéis para o líder visionário: indicador de direções (implica  em selecionar e articular o alvo no futuro ambiente externo), agente de mudança  (catalisa mudanças no ambiente interno a partir do pensamento estratégico e da  monitoração do clima organizacional), porta-voz (pressupõe ações dirigidas à  comunicação eficaz, formação de redes e personificação da visão corporativa) e  treinador (ou coach , que diz respeito à relação do líder com a equipe, baseada no empowerment e no seu desenvolvimento). 
  Por sua  vez, a concepção de Liderança Servidora proposta por Robert K. Greenleaf  (apud JAWORSKI, 2000) explicita um  modelo baseado no ser do líder – e  não no seu fazer – e remete à imagem  de liderança sem seguidores. O autor considera que ser líder é, antes de tudo,  optar por servir àqueles a quem se representa. O foco recai principalmente na  dedicação aos outros e à missão organizacional, a partir do estímulo à  participação, ao compartilhamento de poder e de informações, ao reconhecimento,  à criatividade, à promoção do espírito de comunidade etc. .
  De posse de  todas essas informações, compreender o ambiente como elemento importante na  realidade organizacional pressupõe que cada sujeito, quer seja líder ou  liderado, está exposto a diferentes e múltiplas contingências. Apropriar-se de  papéis multidimensionais (gerente, líder e coach)passa a ser condição essencial para que  se obtenha sucesso nas tarefas de representar pessoas, facilitar o processo de  autodesenvolvimento de outros e promover eficácia. 
  Em sua  representação imaginária e subjetiva, os profissionais em geral (líderes e não  líderes) necessitam conviver com solicitações às vezes conflitantes, que  decorrem, de um lado, do seu mundo interno e, de outro, do ambiente e em  especial do mundo do trabalho. Expostos a tal contexto, são forçados a  questionar valores e pressupostos próprios a cada uma dessas realidades. Para  Bergamini (1994, p. 120-121), são esses aspectos que reconfiguram o papel do  líder e atribuem-lhe uma “tarefa” nova de administração do sentido:
  É esta a oportunidade  em que o líder aparece como figura principal e grande protagonista da  administração do sentido. Ele não deve, no entanto, ser confundido com a figura  de um pai, de um terapeuta, ou de um simples conselheiro. Não assumindo estes  tipos de papéis o líder natural aparece tão-somente como alguém que está apto a  equacionar as duas realidades do mundo: da vida pessoal de cada um, com suas  fantasias, seu imaginário e seus símbolos, e da cultura organizacional. Tudo  isso ele irá equacionar frente à vida no contexto de trabalho, que do ponto de  vista da cultura organizacional também é formada pelas fantasias, pelo  imaginário e pelos símbolos que estão subjacentes às ações organizacionais  concretas. 
  É implicada  com tais conceitos, imagens e representações que surge a indagação: é possível  treinar e desenvolver líderes?
BASS, B. M.; WALDMAN, D. A.; AVOLIO, B. J.; BEBB, M. Transformational leadership and the falling dominoes effect. [s.l.]: U.S.A. Group and Organizational Studies, 1987. p.73-87.
O termo foi usado pela primeira vez num artigo, de 1970, escrito por Robert K. Greenleaf (1904-1990), intitulado "The servant as leader" (O servidor como líder). O autor discute a necessidade de um novo modelo de liderança, cujo foco essencial recaia na prioridade de o líder estar a serviço dos outros: funcionários, clientes e comunidade.
GREENLEAF, R. K. The Robert R. Greenleaf Center for servant-leadership. Who was Robert K. Greenleaf? Indianápolis: Disponível em: <http://www.grenleaf.org/leadership/servant-leadership/Robert-K-Greenleaf-Bio.html>. Acesso em: 04 jul. 2004.
Termo que tem origem no campo esportivo e que, nos últimos anos, vem sendo muito utilizado nas empresas para designar um papel profissional: “o da pessoa que se compromete a apoiar alguém com vista em melhorar seu desempenho e promover seu desenvolvimento profissional e pessoal” (GIL, 2001, p. 282).
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